Lisboa, 19 mar (Lusa) - Os resultados da primeira volta das eleições presidenciais de sábado em Timor-Leste não surpreendem analistas contactados hoje pela Lusa, que antecipam uma vitória do candidato Taur Matan Ruak contra Francisco Lu Olo Gutetrres, na segunda volta, em abril.
"Não fico surpreendida com os resultados", disse Ana Gomes, que teve um papel importante no processo de independência de Timor-Leste enquanto embaixadora de Portugal na Indonésia.
Para a atual eurodeputada socialista, o resultado justifica-se por a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que apoia o candidato Francisco Guterres Lu Olo, continuar a ser o maior partido no país, mas também por o ex-chefe das forças armadas, general Taur Matan Ruak, ser apoiado pelo atual primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e pela sua formação política, Conselho Nacional da Reconstrução (CNRT, a principal da coligação governamental.
Ana Gomes Recordou ainda que o atual Presidente e candidato à reeleição, José Ramos Horta, "optou por não fazer campanha nenhuma", o que poderá explicar porque ficou em terceiro lugar.
Para o constitucionalista Pedro Bacelar de Vasconcelos, antigo conselheiro da ONU junto da Presidência timorense, os resultados mostram "que a Fretilin mantém as estruturas do partido ativas e a adesão junto dos timorenses habitual".
Ainda assim, destacou que "a diferença entre Lu Olo e Taur Maran Ruak parece relativamente curta", o que deverá beneficiar o antigo chefe das Forças Armadas do país, apoiado pelo Conselho Nacional da Reconstrução (CNRT) do primeiro-ministro Xanana Gusmão.
"A Fretilin estará no limite do seu pleno e os votos dos outros candidatos, designadamente do Partido Democrático [de Fernando La Sama Araújo, quarto lugar nas presidenciais com 80 votos na contagem provisória] serão suficientes para atribuir a vitória a Taur Matan Ruak numa segunda volta", disse.
Para o escritor timorense Luís Cardoso e ex-representante da coligação da resistência no exterior, o resultado "está de acordo com o que a maioria dos timorenses esperava", incluindo o próprio Ramos Horta, e "provavelmente Taur Matan Ruak será o próximo Presidente da República".
"Penso que vai ser uma segunda volta interessante. Vamos ver as alianças que se criarão e que determinarão o resultado", afirmou por seu lado Ana Gomes, para quem "o vencedor poderá muito bem ser o general Taur Matan Ruak, não obstante a Fretilin ser o principal partido".
Os três observadores contactados pela Lusa aplaudiram a forma como decorreu a primeira fase das presidenciais, antecipando que a elevação se mantenha na segunda volta.
"Os candidatos portaram-se magnificamente bem", disse Luís Cardoso, enquanto Ana Gomes aplaudiu "a forma pacífica e ordeira como tudo decorreu" nas eleições de sábado.
"É um sinal de que o povo timorense claramente sabe que é pela via democrática que tem de resolver os seus diferentes pontos de vista", afirmou a eurodeputada portuguesa, que integrará uma missão de observação do Parlamento Europeu às legislativas de Timor-Leste em junho.
Bacelar de Vasconcelos destacou "que as primeiras eleições integralmente realizadas pelas autoridades timorenses foram coroadas de sucesso" e afirmou que em abril, "com dois candidatos com a qualidade dos que passam à segunda volta, a campanha manterá o seu nível".
Francisco Guterres Lu Olo e Taur Matan Ruak vão disputar a segunda volta das presidenciais de Timor-Leste, que deverá decorrer na terceira semana de abril, depois de apurados mais de 75 por cento dos votos do escrutínio de sábado no país.
Segundo os últimos resultados provisórios, divulgados pelo Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) de Timor-Leste, Francisco Guterres Lu Olo obteve 128.266 votos (28,48 por cento) e Taur Matan Ruak 113.553 votos (25,18 por cento), enquanto o atual presidente, Ramos Horta, ficou em terceiro lugar, com 17,81%, e já reconheceu a derrota.
FPA (MSE).
Lusa/fim