O EÇA
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Vou transcrever uma passagem do discurso de Xanana Gusmão, proferida na Jornada Científica, dia 17/05, no CCD:
«A UNMIT considera Xanana Gusmão como obstáculo. Peritos timorenses e internacionais que trabalham na UNMIT afirmam o seguinte: "Xanana é o maior obstáculo ao 'constitucionalismo'".
Contudo, em Fevereiro de 2008, se Xanana não tivesse lido bem a Constituição da RDTL não teria feito nada para parar a inactividade [inacção] da UNMIT e a inoperacionalidade da ISF a fim de tomar a decisão de constituir a Operação Conjunta [em perseguição dos rebeldes do tenente Gastão Salsinha] para não alienar a nossa soberania , posso garantir que [hoje] ainda haveria crise [político-militar] no nosso país.
Para a UNMIT, esta é a situação desejada... porque, assim, podem permanecer mais tempo [em Timor-Leste]! E eu tenho de vos informar que alguns timorenses defendem que a UNMIT não pode deixar [o país], porque eles ajudam muito a economia do povo e se a UNMIT sair o povo há-de ficar numa pobreza extrema como aconteceu [no passado], de 2000 a 2008, durante o qual a comunidade internacional gastou perto de oito biliões em Timor-Leste e não vemos nenhum desenvolvimento físico e ainda ajudou a aumentar a pobreza na nossa terra. Porque quando eles saem aumenta a pobreza, e nós é que temos culpa!»
Mais um excerto do discurso de Xanana Gusmão (17/05) em que põe em causa o conhecimento dos peritos da UNMIT em áreas como economia e finanças e justiça.
«A UNMIT referiu-se também à minha resposta às "Contas Gerais do Estado 2009" como sendo 'hostil', isto é, que a minha resposta é muito crítica e que demonstra uma falta de respeito pelos Tribunais. Eu concordo que a UNMIT tem muitos peritos, todos muitos inteligentes, nacionais e internacionais, por isso é que eles não analisaram a fundo a minha resposta ao Parlamento Nacional. Mas, a sabedoria da UNMIT não chega para entender que eu, enquanto Primeiro-ministro de Timor-Leste, não aceito teorias de políticos e intelectuais de Portugal que o Tribunal menciona e escreve no seu relatório, porque acompanho a situação económica e financeira em Portugal. (Como no passado [na Resistência], não fazia a guerra na escuridão.) Na minha resposta eu procurava fazer entender que se as teorias citadas pelo Tribunal são as certas e correctas, então Portugal não entraria em bancarrota, com dívidas de 120 biliões de dólares e, hoje em dia, está de mão estendida ao Banco [Central] Europeu e ao FMI. Se isto é que a UNMIT classifica como 'hostil', então, não há nenhuma sombra de dúvida que os "experts" da UNMIT são mesmo muito inteligentes! E a UNMIT falou também do caso Maternus Bere.»
E eu, autor deste humilde blogue, acrescento: Não resta a mínima sombra de dúvida que os "experts" timorenses e internacionais da UNMIT são mesmo muito, muito inteligentes!
Mais ataques demolidores de Xanana Gusmão aos "experts" timorenses e internacionais da UNMIT, no seu discurso de 17/05, no Centro de Convenções de Díli.
«Eu, também, tenho a minha apreciação profunda relativa a ONU e suas agências. A minha proposta é esta: a UNMIT e seus "experts" timorenses deviam oferecer-se para resolver a questão do Iraque, Afeganistão, Paquistão, e oferecerem-se também para ajudar a democracia no Iémen, Síria e Líbia. Contudo, na apresentação da UNMIT, em Janeiro de 2011, afirmam que só com a continuação da presença da ONU em Timor-Leste é que se pode desenvolver este país.
Eu quero dizer aos timorenses, que se tornaram "experts" para a UNMIT, para não se gabarem muito, para não se curvarem demasiado para o dinheiro de outros, porque esta postura é uma doença a qual designamos colonialismo mental e colonialismo intelectual. Em português diz-se alienação. A nossa Constituição diz que não se pode alienar a nossa soberania, isto é, não se pode vender a nossa soberania a estrangeiros.
Fico contente por UNMIT me fazer esta apreciação. Porque se me tivesse elogiado como sendo uma óptima pessoa... para UNMIT, seria o povo que tinha o direito de me desconfiar que eu tinha alienado os interesses deste povo, que teria alienado a soberania desta Nação. Por isso, estou contente... por os nacionais e os internacionais, na UNMIT, não estarem contentes comigo. Conhecemos alguns que se tornaram "experts" na nossa terra, mas, esses, deviam era trabalhar com o Presidente Obama para tentar resolver os 14.5 triliões da dívida americana e as enormes fraudes das instituições financeiras e bancárias que o mundo conheceu em 2009, e que afectaram negativamente a economia a escala global. Outros, ainda, tornaram-se "experts" em macroeconomia e finanças, na nossa terra. Eles é que ainda não se deram conta, mas são eles os peritos que servem para ajudar a Europa a sair da enorme crise de dívida de 788 biliões da Irlanda, Grécia e Portugal, porque o 'baillout' que o Banco [Central] Europeu e o FMI podem oferecer é de apenas 322 biliões. Esses peritozinhos detentores do Bilhete de Identidade da RDTL desconhecem ainda que grandes países do mundo precisam muito da sua ajuda. A América e a Europa precisam destes "experts" timorenses e internacionais para corrigir e melhorar os padrões e 'standards' os quais eles muito defendem.»
Comentário: Depois desta passagem demolidora para o profissionalismo e imparcialidade e brio destes "experts" timorenses e internacionais da UNMIT, os convidados desta missão da ONU começaram abandonar a sala do CCD.
Este excerto do discurso de Xanana Gusmão tem como destinatário timorenses assalariados da UNMIT com o estatuto de "experts" que influenciaram na redacção do relatório - muito crítico a Xanana, como sendo "obstáculo ao constitucionalismo" - desta instituição divulgado internamente a 24/01/2001.
«Ser cidadão não é só ter o Bilhete de Identidade para poder escolher um partido político e votar nas eleições. Ser cidadão é ter o dever de contribuir positivamente para [o desenvolvimento de] uma Nação.
Pode acontecer que um timorense se afaste deste dever, fazendo desaparecer o conceito de soberania. Esta pessoa, este timorense, considera-se um independente, por isso, para ele, os interesses da Nação já nada valem. Consideram-se independentes porque não é o Estado [timorense] que lhes paga [o salário], mas grandes e enormes Organizações, como, porventura, agências da ONU, das quais podemos também questionar a transparência e o resultado de enormes somas de dinheiro que gastam. A BBC emitiu uma reportagem em diz que uma Agência da ONU levou biliões de dólares para o Afeganistão para melhorar as condições de vida das crianças, contudo, esgotado esse dinheiro e a Agência sai do Afeganistão, as crianças afegãs tornaram-se ainda mais pobres do que antes [da ajuda desta Agência da ONU].»
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