Díli, 11 mar (Lusa) - Lucas da Costa, o candidato às presidenciais de Timor-Leste e reitor da Universidade da Paz, disse em entrevista à agência Lusa que há uma paz podre no país por causa das desigualdades e das brechas existentes entre gerações.
Segundo o candidato, o país está muito calmo, mas a "qualquer altura, em qualquer momento, pode entrar em turbulência muito desastrosa, por causa das desigualdades, por causa das brechas que existem entre a geração que lidera o país, com a geração que se está a preparar para tomar conta do país".
"Timor, como a sua configuração física demonstra, é um crocodilo. Um crocodilo está em águas muito calmas, mas é sempre um crocodilo. Se se lhe atira uma pedra, o caráter deste povo é um pouco a projeção dessa configuração física do país", afirmou o também deputado do Partido Democrático.
"São estas as realidades sociais e políticas que conferem uma nuance de paz podre neste país. Este povo não é um povo mau, mas é um povo muito atento à sua própria sobrevivência", disse o candidato às presidenciais do próximo sábado.
Para Lucas da Costa, coloca-se a questão da unidade nacional que não pode ser feita com leis, apelos e rituais, mas como convivência social e política harmoniosa.
"São questões que só uma política de convivência social e política harmoniosa pode ditar. A unidade nacional não será um produto de leis, não será um produto de apelo, não será um produto de rituais. Terá de ser um produto de convivência social harmoniosa, civilizada e produtiva", explicou.
Na entrevista à Lusa, Lucas da Costa disse também que se for eleito vai fazer uma revisão constitucional, porque, desde a restauração da independência, a Constituição tem sido constantemente violada.
Para o candidato, a "própria Constituição está mal redigida e é por causa disso que o país perde no seu processo de desenvolvimento".
"Um dos meus objetivos será fazer uma revisão Constitucional para que a Constituição seja inequívoca tanto na sua interpretação, como na sua aplicação", disse, salientando que quando a Constituição foi feita estavam todos com "pressa de tomar conta do poder".
Outra questão que se for eleito Presidente da República Lucas da Costa vai garantir é o cumprimento da utilização da língua indonésia e inglesa como línguas de trabalho.
"A maioria da força de trabalho intelectual foi treinada ou em escolas da Indonésia ou em escolas da Austrália. Não foi treinada em escolas da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)", disse.
Para o candidato, é inadmissível que aquela força de trabalho intelectual não esteja a ser utilizada no processo de desenvolvimento do país só porque não fala o português, língua que considerou muito bonita, mas pouco útil para a fase de desenvolvimento em que o país se encontra.
"Se não fizermos isso o país está a perder no seu processo de desenvolvimento", sublinhou.
Sobre o desenvolvimento de Timor-Leste desde 2002, anos em que foi restaurada a independência do país, Lucas da Costa disse que o desapontamento do povo é grande.
"Com muito pesar tenho de dizer que o povo invoca sempre tempos idos como tempos em que tinha arroz na despensa, o que já não acontece agora. São invocações muito inequívocas, que não ocultam quão grande é o desapontamento deste povo", afirmou.
Segundo Lucas da Costa, o "povo evoca um modo de vida do tempo da ocupação indonésia, para dizer que a economia do país e o bem-estar no país são apenas ilusões porque não estão a ser concretizados".
MSE.
Lusa/Fim
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